sábado, 14 de novembro de 2020

O timbre dos ossos: II

    Aplausos... Nunca pensei que fosse tão bom recebe-los. Depois que se faz um trabalho como esse, realmente é revigorante ser agradecido com aplausos de tantas pessoas. A música realmente é algo melhor do que eu esperava.

    Todos nós, instrumentistas e maestro formamos uma fila de forma horizontal e agradecemos à plateia enquanto flores são jogadas no palco.Pego uma delas e a ponho no bolso de meu colete, talvez a Celles aceite como pedido de desculpas. Nos retiramos do palco e voltamos para trás das cortinas.

  Ainda sinto meus dedos tremularem um pouco, mas estou muito mais aliviado agora. Pelas informações que recebi, ocorrerá um jantar no castelo real em algumas horas, e pelo que parece estamos convidados. Esse é o principal motivo de eu ter aceitado tocar nesta orquestra. E pensar que até duas semanas atrás eu nunca tinha tocado em um piano na minha vida...

    -Ludwig! - chama o maestro -Parabéns, de verdade! Você foi fenomenal! Seu ritmo estava perfeito!

    Me surpreendo com tal atitude e me viro para ele.

    -Eu agradeço o elogio - digo após uma breve risada -Não vou mentir, eu estava um pouco nervoso e várias vezes cheguei perto de errar.

    -Sim, eu percebi que você estava um pouco tenso. Por esse motivo eu estava temendo você errar e desorganizar o restante, mas você é um excelente pianista! Como nunca ouvi falar de você?”

    -Sou do tipo mais discreto, sabe? Costumo tocar apenas em encontros familiares.- Na verdade ele nunca ouviu falar de mim porque eu não toco piano. Mas já que cheguei até aqui com uma única mentira, então vamos continuar até onde der.

    -Mais uma vez, parabéns pelo seu trabalho! -diz o maestro enquanto aperta minha mão -Tocaremos juntos mais uma vez futuramente, certo?

    -Claro... Sempre que precisar estarei à disposição. -Na verdade eu queria que essa fosse minha primeira e ultima apresentação, Mas nunca se sabe...

    O maestro se afasta e vai falar com o restante dos músicos. Eu olho em volta por algum tempo e vejo aquela flautista guardando seu instrumento, e indo em direção à saída logo em seguida. Aproveitando as várias portas de conversa que tenho disponíveis, ando rapidamente em direção dela e a chamo pelo nome. Ela vira o olhar para mim como se estivesse assustada ou confusa. Provavelmente deve estar pensando em como sei seu nome.

    -Adara. É seu nome, não é?

    Ela demonstra certa hesitação, mas finalmente responde.

    -Sim. Você era nosso pianista, não é?

   -Sim. Me chamo Ludwig, mas pode me chamar apenas de Lud se for mais fácil para você. -digo enquanto estendo a mão para cumprimenta-la.

   Ela fixa os olhos em minha mão mas não responde a meu cumprimento, voltando seu olhar novamente para meu rosto.

    -Desculpe, eu não gosto muito de contato físico.

    Forço um sorriso e coloco ambas minhas mãos nos bolsos de minha calça.

    -Não tem problema, eu não sabia que isso não te agradava...

    -... -Ela fica em silêncio. Parece estar um pouco desconfortável.

    -Her... Você ficou sabendo de um jantar no castelo real?

    -Sim. 

    -Você vai comparecer?

    -Imagino que sim... Por que a pergunta?

    -Bem... Parece que todos vão, então queria confirmar a sua presença também.

    -Entendo...

    -Sabe, durante os ensaios eu percebi que você é do tipo quieta. Sempre aparecia nos ensaios apenas para tocar sua parte, e logo depois ia embora. Nunca tivemos a chance de trocar mais de duas palavras até agora. -Até pouco tempo atrás as únicas coisas que falei com ela foram: oi e tchau...

    -Desculpe se eu pareci grossa... Eu apenas não gosto de ter muito contato.

    Ela é mais difícil de conversar do que eu imaginei... Acho melhor deixar para continuar isso durante o jantar.

    -Bom, acho que já lhe atrapalhei o bastante. Nós vemos no jantar?

    -Eu acho que sim... -Ela responde desviando bruscamente o olhar, e logo em seguida volta seu caminho para a saída.

    -Ei! - a chamo mais uma vez. Ela se vira em minha direção com a mesma feição de dúvida de antes -Tchau! -Ela não me dá nenhuma resposta verbal, apenas acena com sua mão direita por um curto período de tempo e volta a seguir seu caminho.

    Sinceramente, que garota desgraçada. Para alguém vinda de uma família tão renomada, ela deveria ter mais modos. Mas é claro que não é por falta de educação... Já ficou bem claro que ela está com algum problema, ou talvez uma doença... Braço frágil, evitando fazer contato físico, rosto magro, olhos fundos, roupas largas, postura defensiva durante todo o tempo... É uma certeza dizer que ela não está bem. Eu não costumo me intrometer na vida e nos problemas pessoais das pessoas que eu investigo, mas talvez eu deva abrir uma exceção para ela. Por mais que demore, preciso do máximo de informação possível para achar o meu alvo, e se ajudar uma mulher com problemas me ajudar a chegar mais perto do meu objetivo, creio que não seja uma total perda de tempo. Além de que é sempre bom ajudar as pessoas, não é?

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

O timbre dos ossos: I

    Estou atrás das cortinas do grande teatro. Mesmo depois de tanto
treinar não consigo deixar de tremer minhas mãos. Esta é minha primeira
apresentação, não posso estragar tudo tão facilmente.
    -Acalme-se Lud. Você treinou muito, tenho certeza que fará tudo de
acordo com o treino. - diz Celles enquanto põe a mão em meu ombro
    -Eu quero acreditar nisso. Mas e quanto a você?  
    -Hum? Algum problema comigo?
    -Sim. Não é muito comum você tentar me dar apoio.
    -Eu só não quero dificultar as coisas para você. Além de qu - ela tenta prosseguir com sua fala, mas eu a interrompo
    -Tá, já pode ficar quieta. Você falou demais, além de que há pessoas em volta, não quero
que achem que sou louco. - Digo seriamente em um tom baixo para que apenas ela me ouça
    Celles continua a falar, mas eu a ignoro até fazê-la se calar. Eu sei
que ela odeia ser ignorada, mas foi preciso. Pedirei desculpas a ela
depois.
    -Está pronto Ludwig? - pergunta-me o maestro enquanto se aproxima ao meu lado
    Respiro fundo e chacoalho minhas mãos enquanto dou pequenos pulos.
    -Estou pronto!
    As cortinas se abrem. Vejo o piano esperando por mim; ao seu
lado três violoncelos; a frente quatro partituras, provavelmente
pertencentes aos violinistas. Ainda ansioso, ando até o piano e sento-me no banco já ajustando a altura, tocando logo em seguida uma ida e volta da escada Si maior. Quando viro meu olhar para a plateia, vejo que o local está cheio, até mesmo nos acentos do segundo andar que costumam ser os mais escassos. Logo atrás de mim vejo que os músicos já estão se preparando igualmente, enquanto alguns outros ainda estão chegando com seus instrumentos. 
    Quando percebo que estão todos prontos, começo a tocar a primeira música de nosso repertorio, e como esperado todos eles seguem minha deixa. Com um olhar sutil, vejo que a flautista ainda está atrás das cortinas, mas ainda não é a hora dela aparecer. De qualquer forma, estou curioso para vê-la tocar... Pelo que me disseram ela é filha de Tzvetan Stepnov, o conselheiro do rei. É curioso o fato de uma garota tão jovem e de família renomada render-se à música dessa forma. Mas agora que paro para pensar, é sério? Ela toca flauta? Quem toca isso?
    Deixando meus pensamentos inúteis de lado, tento manter minha postura e acabar com a tremulação de meus dedos. Sinto com se eles quisessem tocar apenas em tons completos, mas sei que é apenas nervosismo.
    Uma; duas; três musicas tocadas. Até o momento não cometi nenhum
erro. Agora para a quarta música, finalmente recebemos a flautista que eu estava tão ansioso para ver. Ela usa um vestido extremamente longo e carrega sua flauta transversal na mão direita. Finalmente poderei analisar mais cuidadosamente seu
comportamento. Se os boatos estiverem certos, a família dessa garota pode me dar as pistas que preciso para encontrar o homem que estou procurando.
    Começamos então a quarta música. O repertorio está quase acabando, mal consigo conter minha ansiedade. As notas estão todas anotadas em minhas partituras, mas eu não preciso usa-las já que decorei todas até de trás para frente. Minha única dificuldade agora está sendo a ansiedade. Infelizmente eu não me dou bem em lugares com muitas pessoas; mesmo
não sendo do tipo antissocial, multidões me deixa desconfortável.
    Volto a prestar atenção nos outros instrumentos, e percebo que estamos
todos sincronizados, mas ao retomar meu olhar para a flautista percebo algo que nunca tinha reparado. provavelmente por conta do esforço. A garota está com os braços claramente trêmulos, além de que sua mão esquerda está levemente mais baixa que o normal. Eu diria que ela está com os braços doloridos, sua face entrega isso. Mas esta é a primeira música, não tem como seus braços se cansarem tão
rapidamente... De qualquer forma, já me distrai demais, vou acabar errando alguma nota se continuar
assim.

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Drapetomanía

 

Drapetomanía

 

Prazer. É oque eu deveria estar sentindo agora, mas como sempre, esse não é o caso. O homem que está atrás de mim... Eu sinto teu corpo tocando o meu, mas não sinto nada tras de contato físico. Quando encontramos nossos olhos, vejo teu rosto de desprazer provavelmente causado pela ausência de meus gemidos, mas eu não me importo se el está gostando ou não do que está a fazer comigo, afinal, eu não sinto nada. Assim que a toxina levar efeito el irá apenas cair sem vida ao meu lado e eu meramente vestirei mias roupas e regressarei à mia casa. Ulterior alguns dias eu provavelmente esquecer-me-ei do rosto e nome desse homem... Na verdade, já me esqueci de teu nome. De qualquer forma, isso não me é relevante. Pessoas não sano capazes de marcar mia alma, nem meu corpo. Por mais que me agridam ou cortem-me, eu não sentirei nada e em breve meu corpo se esquecerá dos ferimentos... Por mais que me beijem ou digam que me amam, eu não sentirei nada e em breve eu me esquecerei de todos os rostos...

Pode parecer um pouco estranho ter esse tipo de pensamento durante um ato de volúpia que era para ser atam intenso, mas a culpa não é mia se deus me criou com defeito.

“Cof! Cof! Hurr... Cof!” o homem atrás de mim começa finalmente a tossir.

Parece que começou a fazer efeito... Trocar-me-ei de posição para ver como o corpo dele reagirá.

“Vamos mudar a posição.”

“Cof Cof! Claro. Vê se mostra um pouco de ânimo.”

“Empenhar-me-ei.” Imagino que el deve ter percebido que não vou verdadeiramente tentar.

Separo nossos órgãos um doutro e viro-me de frente para el. É a última vez que olharei em teu rosto. Abaixo-me demonstrando um pouco de amabilidade e começo a excitá-lo com mia mão.

El parece estar voltando a se cativar. Acho que já posso dispor mia boca...

“Ahh Sim! Cof! Cof.... Hurr...” dizees mentre afaga meu cabelo e pega em meu queixo. É algo assaz inconfortável.

Atanto mais extenuar-se, mais rápido será o efeito. Imagino que agora seja uma boa hora de usar mia língua.

Sinto a pulsação. Não quero receber esta cousa em mia boca, não costumo ter esse tipo de pessoalidade. Retiro meus lábios lentamente e aparo todo líquido em mias mãos.

“Ahh! Você foi muito bem! Não esperava que sua boca fosse tão boa! Cof! Cof! Cof...” El já está ficando um pouco tonto. Percebo por teus olhos desviam e se tornam de volta para mim com uma alta frequência “Bem, ainda não acabamos. Jogue isso em algum lugar e suba, deixarei você liderar desta vez. Cof! Cof! Cof! Cof...” A tosse está a ficar mais forte.

“Tu estás bem? Já está a tossir há algum tempo, por acaso engasgou-se?”

“Não, eu est... Cof! Cof! Cof! Estou bem! Espere só um minuto...”

El tosse sem parar. Vejo que estás começando a faltar ar em teus pulmões e teu corpo está desequilibrando-se mais a cada segundo. Olho para mias mãos e ainda vejo todo aquelo líquido escorrendo antre meus dedos. Quero apenas livrar-me disso, mas pelo que me lembro não há nenhum lugar que eu possa lavar mias mãos aqui por perto. Acho que terei que lavar em algum riacho... Talvez no bebedouro dos porcos, eu deparei-me com alguns no caminho para cá.

De repente ouço som de um trágico tombo. O som do tombar de um corpo já sem vida. Viro meu olhar na direção e percebo que mia vítima está caída contra o chão, claramente ausente de vida. A boca dele está salivando e pela região que tua mão se encontra, apertando o próprio peito, deduzo que foste uma parada cardíaca. Esta foste a primeira vez que usei uma Jatropha, estonce eu estava curiosa para ver como o efeito o assassinaria.

Levanto-me e limpo mias mãos na cama, mas aquesso cheiro repugnante prevalece. Acho que lavar-me-ei no bebedouro dos porcos no fim das contas...

Visto mias roupas já amassadas e sigo diretamente para a porta e a destranco. Vejo que o faxineiro está logo ao lado varrendo o chão, mas isso não parece ser nada fora do normal já que esto és um estabelecimento de luxo. Esse homem não estas a fazer nada tras de teu dever... Fecho a porta e a tranco novamente, mas não quero que vejam aquesse corpo agora. Passo pelo faxineiro e lhis dou boa noite. Não presto atençano o bastante para saber se el respondeu-me ou não, mas isso não é nada que irá estragar meu trabalho.

Passo por várias portas de diferentes quartos e em sua maioria ouço apenas os vários gemidos e gritos de prazer. Sinceramente acho muito endõado ser atam escandalosa como essas mulheres. Não és como se eu fosse um bom exemplo, mas prefiro ficar em silêncio a fazer algo atam escandaloso.

Deparo-me com a escada que me aduzirá para baixo e começo a descê-la. A chave do quarto em que eu estava ainda está em mias mãos, mas por segurança a colocarei antre em meu bolso. Aduzirei a chave comigo para que possa atrasar o descobrimento do cadáver que deixei.

Desço dois andares ata chegar à recepção. Como não pretendo puxar conversa com ninguém agora, sairei sem dizer nada. Olhares e falsos sorrisos convidativos devem ser o bastante para que não venham falar comigo. Abro a porta e finalmente liberto-me daquelo lugar. Agora só preciso encontrar o bebedouro dos porcos... Imagino que fique do lado oposto.

Ando por alguns minutos ata chegar ao meu destino. Mesmo já sendo noite ainda não é tão tarde, e pelo que ouvi falar Rynil costuma ser bem ativa em períodos noturnos. Realmente não era mentira. Vejo o celeiro com os mesmos quatro porcos gordos com coleiras de couro em teus pescoços que mostram uma determinada numeração. Sano exatamente os mesmos que eu havia visto da primeira vez. Agora que olho com mais atençano percebo que esto és o fundo de um açougue... Pobres porcos... Apenas comem imaginando que és o único motivo de tua existência... Abaixo-me mentre seguro meu vestido para que não toque a lama e com cuidado para não assustar estas grandes linguiças, mergulho mias duas mãos na água deles e as esfrego ata ter certeza de que o maldito cheiro tenha saído.

Um dos porcos aproxima-se de mim, provavelmente com a intenção de beber água. El para em mia frente e começa a cheirar mias mãos... Talvez esteja se questionando o motivo de eu estar mexendo em tua atam preciosa água...

“Qual o problema porco? Estou apenas lavando mias mãos, não irei roubar tua água.” Não é como se el fosse me entender...

Um grunhido. Essa é a resposta que el me dá. Infelizmente assim como el não me entende, eu também não o entendo.

Retiro ambas mias mãos para verificar se o cheiro foi retirado, e sim, não há mais nenhum resquício do maldito odor daquela cousa. Por outro lado, agora mia mão cheira a linguiça, mas eu já esperava por isso estonce para mim não é problema. Mentre mia mão não possuir aquelo maldito odor eu estou bem.

Levanto-me com o mesmo cuidado de anterior, mas antes que eu possa me virar para continuar meu caminho, ouço uma voz masculina chamar-me por trás.

“Belladonna! Ei!” Viro-me e quem vejo é justamente que eu esperava ser... Edward. “Ei, Bella. Oque faz aqui há essa hora? Pensei que estaria em casa.” Ele continua a dizer mentre aproxima-se de mim.

“Eu estava trabalhando.” respondo-lhe apressada.

“Aquela mesma coisa de sempre?”

“Sim.”

“Ahh... Por que você não para com esse trabalho? Você é jovem, bonita, talentosa... Você pode fazer coisas bem melhores do que isso!”

“Não. Eu estou bem assim.”

“Eu posso lhe contratar como ajudante em minha oficina. Sei que não é muito sua cara, mas dá um bom dinheiro!”

“Já dicitis, estou bem assim.”

“...” el mostra-se claramente desapontado com mia resposta “Tudo bem então...Não vou te forçar a fazer algo que não quer.”

“...”

“Você vai voltar quando?”

“Voltar?”

“Sim! Para a casa do pai, eu digo.”

“Eu estava voltando agora.”

“Por que não fica até amanhã? Pode dormir na minha casa. Você aproveita e toma um banho! A água que você lavou suas mãos não é muito limpa, então seja lá o que tinha aí antes, com certeza não era mais sujo do que está agora.

“Tu não sabes o que fala Edward...”

Antes dele dá-me uma resposta, ouço um grunhido vindo de um dos porcos atrás de mim.

“Ahaha parece que o porco gostou de você.”

Viro-me para ver se encontro o motivo da risada e logo à primeira vista deparo-me aquelo mesmo porco que cheirava mias mãos, dessa vez tentando pular o celeiro que lhe prende.

“Por que não o leva para casa?” el mantém-se a dizer mentre ri.

“Por que eu aduziria um porco para casa?”

“É o que fazemos quando alguém gosta da gente. É um sistema bem semelhante no seu trabalho.”

“Mas el é um porco. É totalmente diferente neste caso. Tras de que el já marcaste um encontro com o triturador. – Olho mais uma vez para a placa em que dizees ‘açougue’.

“Ahahaha eu sei! Estou só brincando com você!”

“Desculpe, não percebi que era brincadeira.”

“Acho incrível como você consegue levar tudo tão a sério! Sua vida não fica um pouco chata de mais assim?”

“Não. Mia vida não precisa ser legal ou chata. Contanto que eu cumpra meus deveres já és o bastante.”

“Ahaha” el dá-me uma risada claramente forçada mentre desvia teus olhos de mia face mostrando leve desapontamento “eu queria saber que tipo de coisa o pai vem dizendo para você.”

“Dizees qu...” el interrompe-me

“Shhh! Não diga. Quero ouvir diretamente dele quando for visitá-lo.”

“...”

“Então, voltando ao assunto... Você vai passar a noite em casa? Tem espaço para você e seu porco.”

“Desculpe hoje eu não posso. Disse ao pai que voltaria assim que o trabalho fosse finalizado, e eu acabei de terminá-lo.”

“Você não sabe mentir?”

“Mentir?”

“Sim! Minta para ele! Ele não sabe que você terminou agora. Durma em casa hoje e diga que você terminou seu trabalho amanhã!”

“Eu não posso. O pai dizees-me que eu não posso mentir para el, apenas a outras pessoas.”

“Qual é o sentido disso?”

“...”

“Ahh! Tudo bem então, vou lhe deixar em paz. Mas lembre-se, estarei sempre aqui quando precisar ou mudar de ideia.”

“Sim, eu sei.”

“Até mais então!”

“...”

El acena para mim e logo em seguida vira-se e continua teu caminho. Eu não sou muito próxima dele, mesmo sendo meu irmão mais velho. Sei que el não é uma má pessoa, mas és de grande dificuldade para eu apegar-me a alguém...

Mais uma vez olho para a placa do açougue e em seguida viro meu olhar para o celeiro. Percebo que aquelo mesmo porco ainda estás a tentar fugir. Talvez el tenha percebido que irá morrer em breve...

Aproximo-me dele mais uma vez e el me recebe com um grunhido. Com cuidado levanto mia mão esquerda e acaricio tua cabeça. El aparenta estar gostando já que fechaste os olhos e diminuiu o volume de teu grunhido, mas por outro lado eu estou odiando esta textura. Sinto rugas e alguns pelos grossos tentando furar mia mão.

Sem pensar muito retiro mia mão de tua cabeça e o abraço, mas el não responde de nenhuma forma, estonce eu não diria que el está sentindo-se incomodado. Começo a fazer um pouco de força para levantá-lo e com a ajuda de tuas patas que tentam escalar o celeiro, consigo tirá-lo com certa facilidade.

“Tu estás livre agora porco. Se correr para longe tu não precisarás virar linguiça”.

Por sorte, esta rua especificamente está pouco movimentada. Se alguém ver-me dessa forma irá pensar que gosto de afanar porcos ou cousa do tipo...

“Quer er para casa comigo?” o que estou pensando? El é um porco!

Vejo a coleira de couro em teu pescoço com uma numeração que não me interesso em ver. Pego o sinto de meu vestido e o amarro na coleira usando como uma guia.

“Não me faça chamar muita atençano porco.” digo como se isso fosse possível.

Uma mulher andando com um porco ao lado parece-me um pouco chamativo. De qualquer forma, é isso que se fazees quando alguém gosta de nós.👳

Volto a seguir meu rumo de volta para casa, dessa vez sem interrupções. Por mais que algumas pessoas estejam me chamando e me olhando com certa frequência, eu adur estou fingindo que nada existe a mia volta. Estou com pressa e acho que já perdi tempo a demasia falando com o Edward e esse porco.



 

 

domingo, 7 de junho de 2020

Carta para Masako


Olá Masako, sou eu mais uma vez. Estou deixando esta carta junto à bandeja com seu café da manhã pois sei que não abrirá a porta para me ouvir. Antes de qualquer coisa gostaria de perguntar-lhe, como se sente? Sei que a resposta é um pouco obvia, mas eu queria ao menos saber oque tem a dizer sobre aquele ocorrido. Sei que perdi o controle de mim, fui estúpido, agressivo e agi de forma irracional, mas me diga, a ferida ainda dói?
Me lembro de quando nos conhecemos a dezesseis anos atrás, quando tu eras apenas uma criança. Tu estavas tão bela naquele kimono que fui incapaz de conter minha admiração e naquele momento soube que faria de ti minha esposa, mesmo que tivéssemos que enfrentar tantas dificuldades. É trágico para mim lembrar disso e saber que estou te perdendo aos poucos e tudo por minha culpa. Ver seu sorriso sendo desmanchado por minha espada, seus olhos apaixonados se tornando olhos de temor, sua risada sempre tão simpática se tornando um choro de pavor.
Entendo que estamos passando por um momento conturbado em nossas vidas pois assim como ti, também estou sentindo todo esse impacto negativo. Inúmeras vezes eu já disse o quanto te amo, porém ainda sou líder destas terras e não posso desdenhar meu povo, muito menos o território que é meu por direito.
Sinto sua falta Masako. Quero voltar a ver seu rosto alegre, ouvir seus bons conselhos, ler seus adoráveis tanka e acima de tudo, quero pedir-lhe perdão.
Aguardo ansiosamente por uma resposta.


domingo, 3 de maio de 2020

Drapetomania (Trecho)

    Prazer. É oque eu deveria estar sentindo agora, mas como sempre, esse não é o caso. O homem que está atrás de mim... Eu sinto teu corpo tocando o meu, mas não sinto nada tras de contato físico. Quando encontramos nossos olhos, vejo teu rosto de desprazer provavelmente causado pela ausência de meus gemidos, mas eu não me importo se el está gostando ou não do que está a fazer comigo, afinal, eu não sinto nada. Assim que a toxina levar efeito el irá apenas cair sem vida ao meu lado e eu meramente vestirei mias roupas e regressarei à mia casa. Ulterior alguns dias eu provavelmente esquecer-me-ei do rosto e nome desse homem... Na verdade, já me esqueci de teu nome. De qualquer forma, isso não me é relevante. Pessoas não sano capazes de marcar mia alma, nem meu corpo. Por mais que me agridam ou cortem-me, eu não sentirei nada e em breve meu corpo se esquecerá dos ferimentos... Por mais que me beijem ou digam que me amam, eu não sentirei nada e em breve eu me esquecerei de todos os rostos...


sexta-feira, 10 de abril de 2020

O Desespero Agiu Por Mim


     Nasci e cresci em Prue, no país de Advan. Quando criança eu bastante forte e corajosa, era cercada de bons amigos, uma família que me amava e uma boa condição financeira. Minha mãe era médica, enquanto meu pai trabalhava como banqueiro, ambas profissões eram extremamente bem reconhecidas.
      Quando eu tinha apenas 12 anos, minha mãe acabou morrendo. Ela ficou muito doente e ninguém sabia dizer com certeza que doença era aquela. Algumas pessoas suspeitavam de draconismo, mas nenhuma escama ou presas surgiram em seu corpo. Suspeitaram de envenenamento, mas também não conseguiram ligar a nenhuma toxina conhecida. Com o passar do tempo ela foi piorando cada vez mais, ferimentos começaram a surgir por todo seu corpo, seus músculos começaram a atrofiar até chegar o ponto em que ela era incapaz de se mover. Como o meu pai trabalhava bastante, eu era a encarregada de cuidar da minha mãe. Eu a dava banho, trocava suas roupas, penteava seu cabelo, e até dava comida em sua boca, já que ela não capaz nem mesmo de abrir a boca sozinha.
   Toda essa minha jornada durou quase que um ano inteiro, e para isso tive que sacrificar totalmente a vida social que eu tinha com meus amigos. Eu não me arrependo, mas seria bem mais gentil da parte deles entenderem minha situação ao invés de esquecerem-se da minha existência. Mas é assim que crianças são, não é? Elas trocam de amigos sempre.
      Depois de todo meu esforço, oque já esperávamos aconteceu. Minha mãe morreu enquanto dormia. Disseram que seus pulmões pararam de funcionar durante a noite, oque fazia muito sentido já que seu corpo estava se recusando a funcionar por completo. Mesmo sendo algo que eu já esperava, não pude conter minhas lágrimas. A dor da perda que eu senti em meu coração era tão forte que eu queria rasga-lo com minhas próprias mãos.
    Após vários dias que passei em reclusão, finalmente fui capaz de sair de casa novamente, tudo graças ao meu pai que todos os dias tentava me alegrar. Mesmo sua tristeza sendo tão forte quanto a minha, ele foi capaz de deixa-la de lado apenas para tentar me fazer dar um sorriso mais uma vez, e é claro, sabendo disso eu jamais poderia deixar seu esforço ser em vão. Por dias o ouvia chorando em seu quarto durante a noite, provavelmente por não querer que eu o visse em seu momento de fraqueza.
    Assim que voltei a interagir com as pessoas, percebi que já não era mais a mesma coisa. Eu havia me tornado uma pessoa sensível e medrosa. Eu tinha inveja dos meus amigos pelo simples fato de possuírem uma figura materna, eu chorava todas as vezes em que me lembrava dela, eu tinha medo de perder mais alguém... Com o tempo e me via incapaz até mesmo de brincar, e com isso tentei fazer meus amigos pararem também. Eu tinha medo da morte, e na minha mente até o mais simples movimento poderia levar a morte. Brincadeiras como pula corda, esconde-esconde... Esses eram meus medos. A corda poderia facilmente enroscar no pescoço e matar, alguém poderia facilmente se esconder e nunca mais ser encontrado... Eram tantos medos que mais uma vez eu me via incapaz de sair de casa.
    Lá estava eu mais uma vez, deitada em minha cama chorando como sempre fiz, com medo como sempre estive, e amando meu pai como sempre amei, pois ele era a única coisa que restava. Essa era eu com 17 anos de idade. Uma completa inútil com medo de viver e medo de morrer, medo ganhar e medo de perder. Eu provavelmente transformei a vida de meu pai em um verdadeiro inferno.
Mesmo com o passar do tempo a situação mantinha-se a mesma, parecia até que Zamtt não se importava conosco, na verdade parecia que ele não gostava de nós, porque em dado momento meu pai adoeceu. Mesmo tendo certeza de que eu era a culpada o meu desespero agiu por mim, então a culpa de minhas falhas foram todas depositadas em Zamtt.
Meses e meses se passaram, mas meu pai continuava cada vez pior. Certo momento em que eu precisei urgentemente de um médico gritei desesperadamente por toda a casa até que alguém viesse nos socorrer, e felizmente foi oque aconteceu.
    A doença de meu pai também era desconhecida, mas pelos sintomas apresentados, era claramente a mesma doença que matou a minha mãe. Não sabíamos oque era, de onde vem, e muito menos como trata-la. Meses e mais meses se passaram, e obviamente a doença foi se agravando cada vez mais. Nesse ponto eu era incapaz de dormir, pois meu medo de que os órgãos do meu pai parassem assim como os da minha mãe era tanto que eu estaria disposta a dar-lhe os meus.
Quatro dias sem dormir e sem comer. Três anos sem ver o mundo fora de minha casa. Meu pai estava morrendo em minha frente da mesma forma que minha mãe fez, e a única coisa que eu fazia era chorar e me preocupar. Eu havia me tornado uma existência inútil, e eu sabia disso, mas no quinto dia sem dormir, eu me decidi. Assim que a lua subiu eu juntei os resquícios de minha coragem e fui à busca de Kaj-Maal. Prue costumava ser um lugar vazio durante a noite, então não precisei me preocupar com a presença de ninguém.

    Eu já sabia do potencial de Kaj-Maal, assim como já sabia do preço que teria que ser pago. São coisas que todos aprendem ainda enquanto crianças, e comigo não foi diferente. 
    O acordo foi fechado. Kaj-Maal disse que meu pai viveria para sempre, com uma saúde tão perfeita quanto a natureza. E como eu já esperava, o preço disso seria uma pequena quantidade de essência de dragão que eu guardaria em meu corpo até o dia de minha morte. Assim que voltei para casa encontrei meu pai dormindo na mesma posição em que estava quando sai. Seus braços e pernas aparentavam estar menos rígidos, e julgando pela frequência de sua respiração, Tudo parecia estar voltando ao normal. Aquela noite eu fui capaz de comer novamente, mas não de dormir. Eu não sabia se tinha agido certo. Eu basicamente troquei a minha vida pela dele. Para mim não havia problema nisso, mas não era algo que ele iria querer que eu fizesse. Naquela noite eu chorei como em todas as outras, pois o desespero havia agido por mim mais uma vez.

    Lá estava eu mais uma vez, deitada em minha cama chorando como sempre fiz, com medo como sempre estive, e amando meu pai como sempre amei, pois ele era a única coisa que restava. Essa era eu com 21 anos de idade. Uma completa idiota em seus últimos minutos de vida. Meu corpo estava coberto por escamas brancas, meus dentes haviam se tornado presas e meu corpo queimava por dentro. Sentado ao meu lado estava meu pai, perfeitamente saudável, mas nem um pouco feliz. Essa foi a primeira vez que ele chorou em minha frente. Ele segurava minha mão com força como se isso fosse me manter viva. Nenhum de nós disse uma única palavra durante todo aquele tempo, talvez por medo, ou simplesmente não tinha oque dizer.
    Meu rosto queimou como eu nunca antes, e logo após o restante de meu corpo. Minha mão que meu pai segurava foi coberta por chamas fazendo-o soltar por impulso, mas não evitando a queimadura que ficou na palma de sua mão. Ambos meus braços e pernas ficaram totalmente cobertos por fogo enquanto eu gritava de dor. Meus movimentos eram irracionais, feitos apenas como forma de uma tentativa inútil de apagar as chamas. Não demorou até que a cama e todo o resto do meu corpo fossem cobertos pelo fogo também. Tudo se queimou até não restar nada além de um amontoado de cinzas nas palmas das mãos queimadas de meu pai.